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UEG - 2002/2

Apresentamos três propostas de redação - uma dissertativa, uma narrativa e uma carta argumentativa.
Se optar pela dissertação ou narração, dê um título ao seu texto; caso escolha a carta argumentativa, siga as normas dessa modalidade textual.
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DISSERTAÇÃO

Texto 1
    Dois lados. Na falta de denominação melhor, são conhecidos como o Lado Nobre e o Lado Pobre. O Lado Nobre é mencionado com admiração e até orgulho; por exemplo, em anúncios de imóveis “Compre agora, no Lado Nobre, o melhor apartamento da cidade”. O Lado Pobre não é mencionado, nem pelas pessoas que moram lá, nem por quaisquer outras pessoas. O Lado Pobre fica nas entrelinhas. O Lado Pobre fica subentendido. O Lado Pobre é aquele que não ousa dizer seu nome. O Lado Pobre é o lado das incertezas: quem vive no Lado Pobre reza para que alguma migalha sobre.
SCLIAR, Moacyr. Os dois lados da rua. Folha de S. Paulo, São Paulo, 8 abr. 2002. Folha Campinas.

Texto 2
JORNAL DO BRASIL. Quadro da distribuição da fome no Brasil. Rio de Janeiro, 12 set 1993, p. 2 (Caderno Especial).

Texto 3
   A economia brasileira se situa entre as dez maiores do mundo e chegou a atrair no ano 2000 investimentos estrangeiros da ordem de 30 bilhões de dólares. Quase metade de usuários de Internet da América Latina concentra-se no Brasil. Depois dos Estados Unidos é a nação que mais compra aviões executivos e tem a cidade com a segunda maior frota de helicópteros do planeta. No campo da medicina há hospitais e centros de pesquisa nacionais que servem de referência mundial em áreas como a cardiologia. Todas essas conquistas sem que a miséria se tenha retraído no país. É aí que entra a questão ética.
MENDONÇA, Ricardo. O paradoxo da miséria. Veja, São Paulo, 23 jan. 2002.

Texto 4
   Tomando-se o ranking dos países com renda per capita semelhante à brasileira (são eles: México, Bulgária, Chile e Costa Rica), sabe qual tem taxa de pobreza equivalente à brasileira? Nenhum. O pior deles, a Costa Rica, tem proporcionalmente pouco mais da metade do número de pobres do Brasil. As comparações internacionais trabalham com a certeza de que todos os países revelam dados confiáveis. Pode se olhar a questão sob outro prisma, mas nem por isso o quadro fica menos dramático. Observe-se o ranking dos países segundo o porcentual da população vivendo abaixo da linha de pobreza. Onde está o Brasil? Está ao lado de Botisuana, República Dominicana, Mauritânia e Guiné. Ocorre que entre nossos “colegas de fome” digamos assim, a renda per capita varia entre 15% e metade da renda brasileira. Ou seja, não importa de que ângulo se olhe, o Brasil é hoje o país mais rico do mundo com a maior taxa de pobreza. A isso se chama injustiça social.
MENDONÇA, Ricardo. O paradoxo da miséria. Veja. 23 jan. 2002.


Como conta a História, desde a colonização até as décadas atuais, o Brasil é um país de contrastes. A despeito de nossas riquezas, como explicar a situação de pobreza extrema em que vivem milhões de brasileiros? O que justifica os grandes bolsões de miséria indiferentes ao progresso que o país experimenta? Com base nos fragmentos de textos lidos, escreva uma DISSERTAÇÃO, expondo suas reflexões sobre o tema: Um paradoxo chamado Brasil.
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NARRAÇÃO

   Há alguns meses, a imprensa internacional chocou o mundo ao relatar que um pai teria vendido dois de seus filhos para aplacar a fome dos demais e de si próprio. O texto abaixo descreve brevemente essa notícia. Leia-o, com atenção, pois ele constitui o núcleo informativo desta proposta de redação.

    Assombrado pela necessidade e pela fome Akhtar Muhammad primeiro vendeu alguns de seus animais. Aí, enquanto os meses iam passando, trocou os tapetes da família, os utensílios de metal e até mesmo as toras de

madeira que sustentavam o teto da cabana que o abriga com a larga prole.
   Mas o dinheiro não dava. A fome sempre reaparecia. Finalmente, seis semanas atrás Muhammad fez algo que se tornou infelizmente digno de nota no país. Ele levou 2 de seus 10 filhos para o bazar da cidade mais próxima e os trocou por sacos de trigo.
   Agora os garotos Sher, 10, Baz, 5, estão longe de suas casas. “O que mais eu poderia fazer?”, pergunta o pai, em Kangori, uma remota vila no norte do Afeganistão. Ele não quer parecer indiferente: “Sinto falta de meus filhos, mas não havia nada para comer”.
   Nas colinas próximas, vêem-se pessoas debilitadas voltando de uma colheita primitiva de variedades de vegetais da região e até mesmo grama – uma colheita que só fica minimamente comestível se fervida por muito
 tempo. “Para alguns, não há nada mais”, balbucia Muhammad.
BEARAK, Barry. Pai afegão vende filhos para comprar comida. Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 mar. 2002.


   Certamente, uma história como esta, poderá tomar diversos rumos. Os meninos seguiram juntos ou separados? Como se sentiram nessa situação? E os demais membros da família – mãe, irmãos -, como reagiram ao fato? Que sentimentos experimentaram? Assim, propomos que você escolha como narrador um dos personagens envolvidos no fato acima relatado, para, em 1ª pessoa, criar uma NARRATIVA que expresse a trajetória das crianças após serem deixadas pelo pai no mercado.
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CARTA ARGUMENTATIVA


   No próximo mês de setembro, haverá uma Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o Direito à Alimentação e Nutrição. Tendo em vista esse evento, a ONU enviou ao Brasil, no último mês de março, o suíço Jean Ziegler a fim de realizar visita de inspeção. Após 18 dias no país, o relator especial da ONU concluiu que os brasileiros vivem, no momento, uma “guerra social”. Isso se deve, entre outros fatores, às informações de que há no país cerca de 23 milhões - segundo o Governo Federal – ou aproximadamente 55 milhões - segundo a Igreja Católica - de famintos e desnutridos. 
   Ao concluir sua visita ao país, Ziegler deu várias entrevistas à imprensa. Leia, abaixo, trechos de algumas de suas declarações sobre os direitos humanos no Brasil:

   Há uma guerra de classes no Brasil. São 40 mil assassinatos por ano, de acordo com as estatísticas do Ministério da Justiça. Há uma guerra social aqui. Para a ONU, 15 mil mortos por ano são indicador de guerra.
[...]
   Os dados indicam que um terço da população brasileira é afetada pela subalimentação. Isto é totalmente intolerável. No Níger [país localizado no centro-oeste da África e que tem um dos mais baixos índices de
desenvolvimento humano (IDH) do mundo] há fome porque não há nada, só areia e rocha. Mas no Brasil, onde há terra fértil, riqueza e um clima tropical, a fome é um genocídio, não uma fatalidade. A responsabilidade é a ordem social, não a natureza. A responsabilidade é um produto de uma ordem totalmente injusta. Quem morre no Brasil é assassinado.
ZIEGLER, Jean. Relator especial da ONU sobre o direito à alimentação. In: LOBATO, Elvira. Brasil vive guerra social, diz relator da ONU.
Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 mar 2002.


   Suponhamos, agora, que, por algum motivo especial, você seja convidado a participar da referida Assembléia da ONU. Como brasileiro, sua tarefa será, antes do evento, redigir uma CARTA ARGUMENTATIVA ao alto comissário da ONU, discutindo suas declarações. Lembre-se de que, nessa modalidade textual, você deverá expor de forma clara, consistente e convincente seu ponto de vista sobre as idéias do interlocutor. Você tem liberdade para argumentar concordando com as opiniões do relator especial da ONU ou discordando delas.

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