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Saindo da caverna


Breno Viola, no púlpito da Câmara dos Deputados, em 2010, onde disse que era a hora das pessoas com síndrome de Down representarem-se a si mesmas, e indicou seu desejo.
                                                                           Por Laís Mendes Pimentel *
O que fez o homem sair da caverna, esfregar pedras uma contra a outra para obter fogo, inventar a roda para facilitar o transporte, e preparar lanças para vencer animais fisicamente mais preparados do que ele? A curiosidade, a coragem, o ímpeto de vencer, a vontade de tornar a vida mais fácil para si e para todos.
Mas foi um homem que fez isso tudo sozinho? A resposta é óbvia, né? Não. E todos os homens do grupo se animaram para viver estas aventuras quando um deles propôs encarar o mundo? A resposta desta tampouco é difícil de obter. Claro que entre os Pitecos, havia uma ala que só dava pitacos do contra. “Deixa disso, maluco! Vai virar comida de leão! Não inventa! Você não vai dar conta! Precisamos nos resguardar!”
Se não fosse a ousadia de alguns, estaríamos até hoje disputando, com os dentes, uma pele de urso com o coleguinha do lado.
O movimento de inclusão das pessoas com deficiência intelectual, no Brasil, vive uma situação semelhante às descritas acima. A candidatura de Breno Viola ao cargo de presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD) é uma oportunidade real de honrarmos a batalha diária, secular vivida diariamente por pessoas que nasceram ou adquiriram alguma deficiência intelectual, assim como seus parceiros de luta: pais, amigos, parentes e educadores.
Mas há quem diga que o Breno não está preparado. Baseado em que alguém pode dizer isso? Outra perguntinha de resposta fácil: Em seus próprios medos. O mais doloroso é saber que tal opinião parte de pessoas que se dizem a favor da inclusão das pessoas com Down na sociedade, de igual para igual, roçando cotovelos na caminhada em direção à igualdade de direitos. Sei…
Independente de ideologias (e a candidatura do Breno à FBASD não reflete nenhuma), quem poderia dizer que um homem negro com nome de árabe seria presidente dos Estados Unidos menos de 10 anos depois do ataque ao World Trade Center? Barak Hussein Obama é o nome do cara.
E Lula? Que tantos preconceituosos ainda chamam de analfabeto, não está aí? Para o bem ou para o mal? Quantos disseram que ele não tinha condições de ser presidente da República? Mais uma vez, gostando ou não, ele ocupa este cargo a dois mandatos, legitimado pelo voto popular.
É clara e desconcertante a cisão do movimento de inclusão neste momento no Brasil. O desejo da candidatura do Breno Viola, defendido tão corajosamente por ele, já valeu para mostrar quem é inclusivo da boca pra fora, quem prefere se resguardar atrás de teorias e deixar a prática para os outros países.
Se dependêssemos destas pessoas, meu filho, Francisco, estaria numa instituição para crianças especiais e não numa escola regular. Quem tem filho com Down sabe que a inclusão é suada, tem altos e baixos, surpresas positivas, decepções. Assim é a vida. A inclusão só está sendo construída diariamente graças aos que não se negaram a acreditar e a arriscar. Os que dispensaram porta-vozes e acreditaram, mesmo, que alguém com Down pode ir à luta, se expor de verdade. E que os erros e falhas serão bem-vindos pois serão reais e nos ajudarão a construir uma realidade em que não precisaremos de pessoas que se acham mais capacitadas a decidir a vida do meu filho do que ele um dia poderá decidir.
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* Lais Mendes Pimentel, jornalista e roteirista, mãe do Francisco, 9 anos.

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