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"Línguas são pontes que aproximam as pessoas"

Quando um idioma some, perde-se parte da civilização, diz Brian Fox, diretor de Interpretação da Comissão Europeia


De acordo com o Atlas das Línguas do Mundo em Perigo de Desaparecer, atualizado todos os anos pela Unesco, mais de um terço das 190 línguas faladas no Brasil estão em situação crítica de perigo de extinção. No mundo, a situação não é melhor: das mais de 6,5 mil línguas existentes, metade deve ser extinta nos próximos anos - cerca de 200 delas, por exemplo, são faladas hoje por menos de dez pessoas.

Nesse cenário, a educação tem papel essencial na difusão e propagação de línguas em vias de extinção, ajudando famílias de etnias minoritárias a entender a importância de ensinar sua língua materna aos filhos, avalia Brian Fox, diretor de Interpretação da Comissão Europeia, órgão da União Europeia responsável por implementar decisões, propor legislação e manter os tratados firmados entre os países.

Presidente do grupo de Treinamento do IAMLADP (International Annual Meeting on Language Arrangements, Documentation and Publications) e do Conselho Avaliativo do projeto Molan, dedicado a incentivar o aprendizado de línguas na Europa, Box esteve no Brasil em dezembro para participar de um debate sobre idiomas e diversidade cultural no Museu da Língua Portuguesa, promovido pela Fundação Roberto Marinho.

Leia entrevista:

- O que o mundo perde a cada vez que uma língua desaparece?

Línguas são um componente essencial da humanidade e da vida como a conhecemos. O surgimento das línguas permitiu ao homem desenvolver as sociedades nas quais vivemos hoje. É graças à linguagem que discutimos o presente, olhamos para o passado e projetamos o futuro, lidando com coisas não tangíveis. E cada língua faz isso de uma maneira. Então, quando uma língua desaparece, desaparece também uma pequena parte de nossa diversidade cultural, de nossa civilização.

- Como está a situação das línguas faladas por minorias étnicas no mundo?

Das 6.500 línguas faladas no planeta, estima-se que uma desapareça a cada duas semanas. Especialistas calculam que, até o fim deste século, metade das línguas do mundo terá desaparecido. Muitas delas são faladas por pequenas comunidades isoladas, com pouco contato com o resto da sociedade. O Brasil tem dezenas de idiomas indígenas nessa situação. Em alguns, apenas cinco ou dez pessoas ainda falam o idioma.

- O que pode ser feito para preservar a diversidade linguística?

Autoridades podem ajudar reconhecendo o valor único de cada idioma, tratando-o com respeito. A Unesco está desenvolvendo um trabalho nesse campo, ajudando e orientando governos locais, incluindo o Brasil. Se você entende a importância da biodiversidade, entenderá que a diversidade de línguas é seu equivalente na área cultural. O Brasil é um país que impressiona por sua diversidade musical, por exemplo. Na União Europeia, temos 23 línguas oficiais. É um direito básico respeitarmos a cultura e a identidade de cada país membro. E uma das maneiras de se fazer isso é pelo multilinguismo.

- Qual é o papel da educação formal na preservação dos idiomas? Escolas e professores podem ajudar?

A educação nos ajuda a ver o mundo de maneira mais clara e, consequentemente, a contribuir para melhorá-lo. Acredito que escolas e professores podem ajudar fazendo a ponte entre os idiomas, o cotidiano e a cultura das crianças e jovens. Cada geração injeta uma vida nova nos idiomas. Quando uma criança envia uma mensagem de texto pelo celular a um amigo, ele inventa uma série de novos termos e palavras. É uma boa contribuição. Os idiomas precisam viver. Então, escolas e professores têm um papel essencial na disseminação dos idiomas, inclusive ajudando famílias a transmitirem suas línguas maternas a seus filhos. Muitos deles, quando mudam de país ou se inserem em uma nova cultura, deixam de ensinar sua língua para o filho, por considerar que ela não terá utilidade. Muitos pensam a língua como barreira. Mas elas são, na verdade, pontes. Línguas aproximam as pessoas.
(Simone Iwasso)

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