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(BA) XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais

Diversidades e (Des)Igualdades
Salvador, 07 a 10 de agosto de 2011.
Universidade Federal da Bahia (UFBA) - PAF I e II
Campus de Ondina

A cidade de Salvador foi escolhida para abrigar, pela primeira vez, o Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais, nos dias 07, 08, 09 e 10 de Agosto deste 2011. O Evento, que está em sua décima primeira edição, tem como tema as "Diversidades e (Des)Igualdades", que serão discutidos em 11 eixos temáticos. Durante os quatro dias de evento, especialistas em ciências sociais e humanidades de diversos países estarão reunidos para debater a diversidade e a complexidade de sociedades diferenciadas, nos mais variados aspectos, como é o caso dos países de língua portuguesa.

A programação acadêmica acontece no campus de Ondina da UFBA, e conta com a realização de eventos públicos e atividades culturais no centro histórico de Salvador. O XI Congresso Luso Afro Brasileiro está sendo organizado por um comitê composto de pesquisadores de todas as universidades publicas da Bahia, com a coordenação do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) da Universidade Federal da Bahia.

O X Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais, aconteceu na Universidade do Minho- Campus de Gualtar - BRAGA - PORTUGAL de 04 a 07 de Fevereiro de 2009 e reuniu cerca de dois mil participantes. Para esta edição, estima-se um público ainda maior.
http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/site/capa

EIXO 08- Linguagens, literaturas e artes: diferenças e diversidades





GRUPO DE TRABALHO - GT 60

Cultura e Discurso: interfaces

Coordenadores:
Maria Claudia Coelho
Titulação mais alta: Pós Doutor(a)
Filiação institucional: UERJ
Função na instituição: Professora
susana soares branco durão
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: instituto de ciências sociais da universidade de lisboa
Função na instituição: investigador auxiliar
Maria das Graças Dias Pereira
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Função na instituição: Professora e Coordenadora de Pós-Graduação
Branca Falabella Fabricio
Titulação mais alta: Pós Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal do Rio de Janeiro
Função na instituição: Professor Adjunto

Resumo:
Este Grupo de Trabalho tem por objetivo aprofundar a reflexão sobre as interfaces possíveis entre as ciências sociais e os estudos da linguagem, com foco nas noções de "cultura" e "discurso", eleitas como prioridade devido a seu trânsito entre os estudos da sociedade/cultura e da linguagem. A estratégia é agregar trabalhos que combinem, na construção de objetos de reflexão, conceitos oriundos destas duas grandes áreas. São bem vindos em particular trabalhos das áreas de antropologia, sociologia, lingüística e teoria literária.

Justificativa:
As histórias da constituição dos campos das ciências sociais e dos estudos da linguagem se entrelaçam em diversos momentos, com fortes influências recíprocas que por vezes estão na base de reformulações e reconstruções paradigmáticas. Podemos citar como exemplos marcantes o recurso feito por Claude Lévi-Strauss às obras de Ferdinand de Saussure e Roman Jakobson; a centralidade da sociologia interacionista de Erving Goffman para o campo da sociolingüística interacional; e o diálogo entre teorias da etnografia e teoria literária na antropologia pós-moderna norte-americana.
A recorrência destes diálogos entre as ciências sociais e os estudos da linguagem é a âncora de que lançamos mão para propor um Grupo de Trabalho de natureza interdisciplinar, voltado para o estreitamento da reflexão em torno das formas de interlocução possíveis entre estes dois campos das humanidades. Não se trata, contudo, da mera reunião de trabalhos de orientação quer sócio-antropológica, quer lingüística ou de teoria literária - antes, a proposta do Grupo de Trabalho é receber trabalhos que combinem, na construção de seus objetos, conceitos e perspectivas oriundas destas duas grandes áreas de conhecimento.
Neste empreendimento, as noções de "cultura" e "discurso" são nodais. Se "cultura" é o conceito em torno do qual se erigiu boa parte do pensamento antropológico, voltado para seu progressivo refinamento, "discurso" ocupa um lugar comparável na virada pragmática que orienta hoje boa parte dos estudos da linguagem. Entretanto, "Cultura" não é área demarcada dos antropólogos, havendo hoje uma profusão de propostas teóricas oriundas da lingüística e da teoria literária que, em um movimento de mão-dupla, buscam ao mesmo tempo iluminar questões da linguagem através do recurso à cultura e contribuir para sua compreensão por meio de análises do lingüístico em contexto. Por outro lado, "discurso", ao menos em sua acepção foucaultiana, é moeda corrente em diversos projetos teóricos das ciências sociais, preocupados em particular com a micro-política cotidiana, e remete, em proposições de Bucholtz, à linguagem em contexto, em uso em situações socioculturais, nas relações linguagem, cultura e sociedade.
Tendo estas questões como pano de fundo, este Grupo de Trabalho tem por objetivo reunir trabalhos que combinem, na construção de seus objetos de pesquisa, conceitos oriundos das ciências sociais e dos estudos da linguagem. A finalidade é permitir o aprofundamento da reflexão sobre esta versão específica da interdisciplinariedade que se estabelece entre os estudos da "cultura" e do "discurso". São bem vindas, em particular, contribuições das áreas de antropologia, sociologia, lingüística e teoria literária.



GRUPO DE TRABALHO - GT 61
Diásporas e artes visuais: poéticas e políticas das modernidades

Coordenadores:
Frank Nilton Marcon
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal de Sergipe
Função na instituição: Professor
Sónia Vespeira de Almeida
Titulação mais alta: Pós Doutor(a)
Filiação institucional: FCSH - UNL - CRIA
Função na instituição: Professora Auxiliar - Investigadora
Ilka Boaventura Leite
Titulação mais alta: Pós Doutor(a)
Filiação institucional: UFSC
Função na instituição: professora
Lisabete Coradini
Titulação mais alta: Pós Doutor(a)
Filiação institucional: UFRN, Natal, Brasil
Função na instituição: professora

Resumo:
A proposta deste Grupo de Trabalho é reunir estudos sobre diferentes formas de expressões visuais, como: artes plásticas, cinema, dança, fotografia, vídeo, entre outras, realizadas por investigadores interessados em pensar a relação entre o universo das artes visuais e a diáspora, principalmente em contextos envolvendo África, Brasil e Portugal. Isto implica, reunirmos no GT pesquisas sobre as experiências do trânsito e da circulação de pessoas, de objetos e de informações, e a expressão artística visual destes agentes sobre tais experiências. Neste sentido, pensamos na noção de "diáspora" como um conceito que altera a mecânica dos pertencimentos e produz uma forma nova de ver as experiências, os acontecimentos, e que traz novas formas de interpretar o passado e o presente. James Clifford correlacionou a diáspora à viagem, como um termo que abarca uma gama de práticas e teorias na antropologia das últimas décadas. A teoria da diáspora amplia os sentidos da experiência e introduz novas questões sobre a cultura contemporânea, implicadas especialmente pelas relações entre a poética e a política, tanto em perspectivas sociais quanto conceituais. As teorias atuais enfatizam o movimento, a circulação, os entre-lugares, enquanto as múltiplas dimensões da cultura vão também se tornando mais visíveis e fluídas. O foco dos trabalhos deverão ser as formas de expressão de tais agentes, a produção, a linguagem e o consumo, implicados pelos sentidos de identidade, de territorialidade e de plasticidade das imagens em contextos de permeabilidades transnacionais.

Justificativa:
Desde a noção de Atlântico Negro, de Paul Gilroy, se passou a pensar com mais ênfase a questão da formação de comunidades fora das referências binárias restritivas dos nacionalismos. No campo das expressões visuais é nítido o esforço dos artistas para situarem-se em relação ao seu lugar no mundo e o lugar de seus objetos e criações. Vem daí a pertinência da idéia de in between de Homi Bhabha e uma abertura as possibilidades de sentido das ambivalências enquanto percepções de identificação e diferenciação. A arte, como instância de produção dinâmica da vida cultural, possibilita diversas reflexões sobre as experiências interculturais instauradas em decorrência de diferentes processos coloniais inconclusos, implicando sujeitos, grupos sociais e lugares de referência distintos. Para Nicholas Mirzoeff, a distância entre a riqueza da experiência visual na cultura pós-moderna e a habilidade para analisar esta observação cria a oportunidade e a necessidade de converter a cultura visual em um campo de estudo. Neste sentido, no âmbito da diáspora Atlântica entre o Brasil, Portugal e a África, pensamos este campo da experiência visual como um campo transdisciplinar entre a sociologia, a antropologia, a história da arte, a crítica cultural e outras perspectivas das ciências sociais e humanas. As partes constituintes das formas de expressão visual não estão, portanto, definidas aqui pelos suportes, mas sim pela interação entre o espectador e o que ele vê e observa ou o que podemos definir como acontecimento visual. Assim sendo, partimos da noção de que o primeiro passo para realização de estudos sobre a cultura visual, como propomos aqui, consiste em reconhecer que a imagem não é estável, senão que muda sua relação com a realidade externa em diferentes momentos da modernidade. Tais formas de expressar possibilitam análises sociais instigantes sobre os distintos contornos percepcionados pelos atores que vivenciam tais dinâmicas. Entre o Brasil, a África e Portugal são muitos os agentes e os grupos sociais envolvidos nestes processos, que envolvem movimentos migratórios temporários ou permanentes, mesmo que imaginários, e a partir daí produzem interpretações de suas experiências, que são também reinterpretados publicamente.



GRUPO DE TRABALHO - GT 62
Diversidades e diferenças em contextos de letramentos como práticas sociais

Coordenadores:
Luiz Paulo da Moita Lopes
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal do Rio de Janeiro
Função na instituição: Professor Titular
Maria Clara Bicudo de Azeredo Keating
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade de Coimbra
Função na instituição: Professor Auxiliar

Resumo:
A linguagem ocupa nos tempos em que vivemos um lugar privilegiado em nossas vidas sociais, já que este é o mundo da hipersemiotização. Isso não significa que a linguagem anteriormente não tivesse um papel primordial, mas o fato é que tal papel está extremamente intensificado em nossos dias. Assim, os estudos no campo dos letramentos passaram a focalizá-los como práticas socioculturais situadas das quais participamos, por meio de estratégias discursivo-interacionais que legitimamos como adequadas para construir / negociar significados, com base nos Discursos a que estamos afiliados. Os letramentos, tradicionalmente, compreendidos somente em seus aspectos decodificativos e psicológicos, passam a ser estudados, por meio de um instrumental etnográfico de investigação, como lugares de práticas sociais nas quais agimos na construção da vida social assim como na de nós mesmos. Mais importante ainda, os letramentos passam a ser também compreendidos como práticas cruciais para estudar as hibridizações linguístico-multimodal-discursivo-culturais que cada vez mais nos desafiam a experimentar e a compreender a diversidade da vida social e a alteridade que lhe é constitutiva. Em tais práticas, somos frequentemente convidados a ensaiar alternativas para nossas próprias vidas sociais ou a pensar sobre quem podemos ser e não simplesmente sobre quem somos: talvez um dos maiores desafios de nossos tempos. Este grupo de trabalho abre espaço para trocas entre investigadores que focalizam tanto letramentos escolares como não-escolares, prestigiando a miríade de letramentos com os quais estamos envolvidos no mundo do trabalho, nas trocas interacionais entre imigrantes, nos espaços da cultura popular como em comunidades de funk, rap, samba etc., nos espaços de afinidades no mundo digital (Orkut, fanfiction, blogs etc.), entre outros, bem como a diversidade e a diferença constitutiva da vida social que são inerentes a tais práticas. Em especial, os estudos focalizarão questões referentes a performances de gêneros, sexualidades, raciais, étnicas, profissionais, entre outras, encenadas em tais eventos de letramentos, com ênfase na descrição e discussão das hibridizações acima mencionadas.

Justificativa:
GT co-coordenado por um investigador brasileiro (Luiz Paulo Moita Lopes) e uma investigadora portuguesa (Clara Keating), pretende congregar pesquisadores que têm atuado no campo dos letramentos como práticas socioculturais no mundo luso-afro-brasileiro com enfoque especificamente voltado para questões referentes a performances identitárias e para as hibridizações linguístico-multimodal-discursivo-culturais que as constroem, enfatizando a possibilidade de construir outros futuros alternativos para nossas vidas sociais e seguindo abordagens transdisciplinares de investigação.




GRUPO DE TRABALHO - GT 63
Identidade e memória social: narrativas lusófonas

Coordenadores:
Luís Manuel Jesus Cunha
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Instituto Ciências Sociais - Universidade do Minho
Função na instituição: Professor

Resumo:
Neste Grupo de Trabalho, procurar-se-á debater a ideia da lusofonia não enquanto produto acabado, resultado de uma suposta convergência linguística e cultural, mas enquanto processo. Neste sentido, focar-nos-emos no complexo universo de narrativas que constroem e desconstroem as identidades plurais que, de um modo ou de outro, se associam à ideia de lusofonia. A literatura tanto quanto outros produtos culturais, os manuais escolares tanto quanto os conteúdos mediáticos, o ciberespaço tanto quanto as narrativas orais que transmitem experiências e visões do mundo. Em todos estes registos, e noutros ainda, expressam-se entendimentos plurais, convergentes nuns casos, divergentes e mesmo conflituosos noutros. Cruzando o olhar de vários investigadores, provenientes de áreas disciplinares e geográficas muito diversas, tentaremos combinar diversos materiais e contextos de investigação de forma a problematizar, mais que a clarificar artificialmente, a noção de lusofonia. Procuraremos debatê-la como realidade dinâmica, ou seja, como um processo aberto, na qual a lusofonia pode surgir como uma realidade - nuns casos idealizada, noutros rejeitada e noutros ainda negociada - mas também como uma fantasia inconsistente, criada pela herança colonial. De uma ou de outra forma, e esse é o ponto de centramento da nossa proposta, as narrativas que alimentam a lusofonia não permitem configurá-la como um produto acabado e consensualizado.

Justificativa:
Num congresso luso-afro-brasileiro, afigura-se-nos de inequívoca relevância um debate centrado nos discursos de confluência - cultural, política, económica... - em torno dos quais a ideia de lusofonia vem sendo pensada. São múltiplos os usos do conceito de comunidade lusófona, assim como são múltiplos os interesses que à sua volta se vão tecendo. Enquanto cientistas sociais, procuraremos tecer um olhar analítico sobre o tema, cruzando perspectivas a partir dos três continentes que este congresso congrega.



GRUPO DE TRABALHO - GT 64
Língua(s) como meio(s) de exclusão e inclusão social

Coordenadores:
Margarida Maria Taddoni Petter
Titulação mais alta: Livre Docência
Filiação institucional: Universidade de São Paulo
Função na instituição: professora

Resumo:
A temática deste grupo de trabalho visa a discutir o papel da(s) língua(s) nas sociedades africanas e brasileira, que se caracterizam como sociedades plurilíngues, onde diversas variedades linguísticas convivem desigualmente, em função do prestígio ou estigma associado a cada uma delas. Essa situação cria hierarquia entre as línguas em presença e contribui para a exclusão ou inclusão social de seus usuários.
No Brasil, fazem parte do plurilinguismo: línguas indígenas, variedades de língua de sinais brasileira (LIBRAS) e práticas linguísticas associadas à presença de povos e línguas africanas no país, identificadas em comunidades remanescentes de quilombos e em comunidades religiosas.
Na África, em Angola e Moçambique, especificamente, a língua portuguesa é a única língua oficial de cada um dos países, usada na escola, na administração e em todos os ambientes da vida moderna, o que a configura como a variedade de maior prestígio. As línguas africanas locais, pertencentes em sua grande maioria ao grupo banto, têm seu domínio de uso restrito a ambientes familiares, de informalidade, no âmbito da oralidade, o que discrimina seus falantes e ameaça as línguas de extinção.
Os trabalhos deste grupo devem apresentar e discutir, no tocante à realidade brasileira, não só dados sobre a situação atual de comunidades quilombolas e comunidades de terreiro, onde persistem práticas linguísticas e culturais associadas a povos e línguas africanas, mas também devem refletir sobre a discriminação social que acarretam o uso de uma outra variedade linguística ou de um português não padrão.
Com relação aos contextos africanos, os estudos devem tratar da situação sociolinguística das línguas locais, do seu contato com o português, do planejamento linguístico e das políticas de inserção das línguas nacionais no ensino, bem como dos projetos de descrição e documentação das línguas africanas.

Justificativa:
As línguas africanas, transplantadas para o Brasil há quase quinhentos anos, permanecem hoje sob a forma de línguas especiais, ou seja, como modos de falar próprios de uma faixa etária ou de um grupo de pessoas dedicadas a atividades específicas, de acordo com a formulação clássica estabelecida por Van Gennep (1908). Não se apresentam mais como línguas plenas, mas revelam traços de seu longo e intenso contato com o português. O seu uso - além de estar associado a grupos específicos - está vinculado a duas funções principais: ritual: nos cultos religiosos ditos "afro-brasileiros" e demarcação social: como língua "secreta", utilizada em comunidades negras rurais constituídas por descendentes de antigos escravos, como Cafundó e Tabatinga, considerados remanescentes de quilombos, depois da Constituição de 1988.
O contato das línguas africanas com a língua portuguesa ocorreu, no Brasil, desde os primeiros momentos da colonização. A presença de falantes de línguas indígenas e africanas, ao lado de falantes de português, instaurou o multilinguismo como a situação primordial em que se constituiu o português brasileiro (PB, doravante). Se a história da língua é também a história de seus falantes, a pesquisa linguística sobre o PB não pode ignorar o contato com outras línguas. Assim sendo, os dados demográficos referentes à população de origem africana, em muitos momentos de nossa história igual ou superior à população branca, nos incitam a investigar as eventuais marcas que seus falantes deixaram na variedade brasileira da língua portuguesa e nos levam a considerar o português falado no Brasil como sendo, em parte, um português afro-brasileiro, visto que não se pode negar a participação de línguas indígenas e línguas de imigrantes em sua constituição.
Embora não se reconheça em nossos dias uma fala que identifique o afro-descendente, é bem verdade que a expressão linguística de falantes de menor renda e de menor nível de escolarização, onde se situa grande parte da população negra e mestiça, caracteriza os ambientes de exclusão social. O estudo e a divulgação de trabalhos sobre a presença de povos e línguas africanas no Brasil deve contribuir para o reconhecimento e valorização desse importante legado e, em consequência, deve colaborar para a inclusão social dos descendentes de africanos que mantêm e renovam as tradições africanas em nosso país.
No tocante à África, principalmente, é importante destacar que a "Declaração Universal dos Direitos Linguísticos" ratifica que toda sociedade humana assentada historicamente em um espaço territorial determinado e que se autoidentifica como povo, desenvolvendo uma língua comum, tem o direito de ter sua língua reconhecida como "língua própria de um território". Daí decorre que deve ser assegurado a todo o falante o direito de comunicar-se oralmente e por escrito em sua língua materna. Para tanto, o Estado deve garantir que toda língua seja descrita, documentada e ensinada na escola.
A realidade, no entanto, é bem diversa. Nos contextos africanos, o português é a única língua que permite ao indivíduo a ascensão social, o que equivale dizer que as línguas africanas locais se encontram, na maior parte dos casos, numa situação de inferioridade, o que contribui para o seu desaparecimento.




GRUPO DE TRABALHO - GT 65
Livros didáticos, Literaturas e identidades na África e na diáspora

Coordenadores:
Paulo Vinicius Baptista da Silva
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal do Paraná
Função na instituição: Professor
Nilma Lino Gomes
Titulação mais alta: Pós Doutor(a)
Filiação institucional: UFMG
Função na instituição: Professor
IRIS MARIA DA COSTA AMÂNCIO
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Função na instituição: PROFESSOR ADJUNTO

Resumo:
Esse GT propõe-se a ser espaço de discussão e reflexão sobre produções simbólicas, em especial da literatura, literatura infanto-juvenil e livros didáticos e suas interfaces com saberes diversos produzidos com a comunidade africana e africana da diáspora. A proposta é o diálogo entre pesquisas que analisam, do ponto de vista das relações étnico-raciais, discursos contra-hegemônicos e discursos hegemônicos. O propósito é estabelecer espaço de reflexão sobre os discursos da literatura, literatura infanto-juvenil e livros didáticos e suas atuações na construção de saberes identitários, políticos, históricos e estéticos/corpóreos acumulados pelo Movimento Negro ao longo do seu processo de luta no contexto histórico brasileiro e sua relação com o campo da educação. Intuito correlato é abrir perspectivas para reflexões mais amplas, bem como a realização de intercâmbios nacionais e internacionais. No que se refere à literatura infanto-juvenil e livros didáticos, objetivos específicos se relacionam à consideração de tais impressos como atuantes especiais na formação escolar: podem contribuir para a manutenção do racismo como estruturante dos imaginários sociais ou, pelo contrário, atuar de forma a difundir saberes que se oponham ao racismo estrutural. Além disso, o campo de estudos se relaciona com as exigências de uma imagem positiva e afirmativa da população negra e, sobretudo, do direito a representação positiva da estética e corporeidade negra na história.

Justificativa:
Esse GT é fruto de acúmulo acadêmico, de pesquisas, publicações e debates públicos, sobre os saberes políticos, identitários, estéticos/corpóreos e históricos produzidos pela comunidade negra ao longo da história e sistematizados pelo Movimento Negro, que induziram a sociedade, o Estado e a escola a instaurarem um processo de reeducação em relação à questão da diversidade étnico-racial na sociedade brasileira. Nesse processo, têm sido realizada a revisão de determinadas concepções arraigadas e cristalizadas no imaginário social, a construção de novas reflexões teórico-metodológicas sobre a África, o negro brasileiro, as suas diferentes formas de organização e os saberes produzidos por esse segmento étnico-racial e a análise crítica das imagens e representações veiculadas na literatura, literatura infanto-juvenil e livros didáticos. Tais saberes e análises críticas se constituem como desafios teóricos, epistemológicos e práticos no campo da análise social e da educação. No plano simbólico os discursos literários, da literatura infanto-juvenil e de livros didáticos atuam tanto de forma a reproduzir quanto a produzir desigualdades raciais, operando para manter ou construir, de maneira sistemática, hierarquias raciais. Por outro lado, observam-se discursos contra-hegemônicos, em particular na literatura mas também em espaços específicos da literatura infanto-juvenil e de livros didáticos, que têm incorporado saberes sociais emergentes. Em suma, o GT se justifica pela necessária interlocução entre pesquisadores que têm se dedicado a análise de "saberes ausentes" e/ou de "saberes emergentes", de analistas da literatura, literatura infanto-juvenil e livros didáticos que têm se dedicado a estudar tais discursos e suas escolhas enunciativas, tanto no dito, como no não-dito ou no silenciado. O objetivo do GT é propiciar espaço de interlocução entre tais pesquisadores e o debate sobre pesquisas que analisam discursos da literatura, literatura infanto-juvenil e livros didáticos, tanto no que se refere a discursos hegemônicos e racializadores quanto das rupturas e quebras.




GRUPO DE TRABALHO - GT 66
Negritudes e polifonias: literatura e educação como estratégias de superação das desigualdades raciais

Coordenadores:
Simone Pereira Schmidt
Titulação mais alta: Pós Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal de Santa Catarina
Função na instituição: Professora Associada
Maria Zilda da Cunha
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade de São Paulo
Função na instituição: Professora
Eliane Santana Dias Debus
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal de Santa Catarina
Função na instituição: Professora
Claudia Junqueira de Lima Costa
Titulação mais alta: Pós Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal de Santa Catarina
Função na instituição: Professora

Resumo:
No Brasil vive-se um momento em que se repensam as relações raciais, seja pelos movimentos visando a implementação da Lei 10. 639/2003, seja pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, ou ainda através das Ações Afirmativas implementadas nas universidades nos últimos anos. Neste sentido, este GT propõe reunir estudiosos de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e os de Literatura Brasileira, com ênfase nas temáticas africana e afro-brasileira, para refletir sobre a produção e circulação de textos desse universo temático no Brasil, e como sua leitura pode constituir estratégias culturais e políticas que venham confluir para a construção de uma sociedade plural e mais democrática, em termos de raça, etnia e gênero. Desse modo, este Grupo de Trabalho se propõe a debater a produção de pesquisadores em relações raciais, verificando quais os caminhos possíveis para a produção de estratégias de promoção da igualdade raciais, pelo viés dos estudos literários e culturais, e também da educação.

Justificativa:
Ao propor este GT temos por objetivo colocar em prática alguns dos desafios que Boaventura de Sousa Santos propõe para aqueles que se encontram dentro de uma perspectiva emancipatória, empenhados na construção de uma "globalização contra-hegemônica". Um desses desafios seria, segundo o autor, justamente o de "tradução de diferentes projetos parciais de emancipação social", visando "transformar a incomensurabilidade em diferença, uma diferença que torne possível a inteligibilidade recíproca entre os diferentes projetos de emancipação social, sem que nenhum possa subordinar em geral ou absorver qualquer outro".
No que diz respeito à Teoria Literária o aporte teórico privilegiado será o dos Estudos Culturais e dos Estudos Pós-Coloniais, no âmbito das preocupações em torno da produção literária contemporânea dos países africanos e do Brasil. Herdeiro das tensões étnicas e raciais advindas de sua colonização, o Brasil se encontra estreitamente ligado, em sua história, aos processos culturais vivenciados pelos povos africanos. Interessa-nos investigar e discutir essa ligação, bem como suas repercussões na cultura brasileira. No que diz respeito ao diálogo com a Educação, busca-se verificar se as demandas da Lei 10. 639/2003, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo escolar brasileiro do ensino fundamental e médio, e a inserção no Ensino Superior, teriam contribuído para que a temática em questão recebesse certa visibilidade no mercado editorial, levando em conta a sua produção e circulação.



GRUPO DE TRABALHO - GT 67
Os três anéis da lusofonia: adaptações literárias em cinema e televisão

Coordenadores:
Carolin Overhoff Ferreira
Titulação mais alta: Pós Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal de São Paulo
Função na instituição: Professora
Maria Manuel Rocha Teixeira Baptista
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade de Aveiro
Função na instituição: Professora

Resumo:
Quando Eduardo Lourenço (1999) se pronunciou em A Nau de Ícaro sobre a criação da Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP), lembrou que essa comunidade, bem como a ideia da lusofonia na qual se baseou, eram sobretudo um desejo português. O autor sublinhou a diversidade cultural de quem fala as diferentes inflexões do português, muitas vezes ofuscada pela celebração da língua em comum. Lourenço referiu-se às diferenças culturais através da expressão dos "três anéis" - Portugal, os PALOP e o Brasil. Não era desejável, na opinião do autor, que estes anéis se fundissem num só, porém, seria um pequeno milagre se tivessem um maior interesse um pelo outro. As adaptações literárias em cinema e televisão apresentam um caso deste interesse e de possível aproximação das culturas, pois desdobram os laços históricos e lingüísticos entre elas. Alguns autores do cânone literário português são considerados patrimônio comum, por exemplo nas produções nacionais brasileiras e nas co-produzidas com Portugal. A importância atribuída à literatura na cultura portuguesa manifesta-se também nos filmes dos PALOP, cujo cinema depende atualmente quase exclusivamente de Portugal como co-financiador. Enquanto na África francófona e anglófona a oralidade como característica das culturas africanas sempre possuiu forte impacto na produção audiovisual, os países lusófonos apresentam majoritariamente filmes baseados em textos literários, muitas vezes realizados por diretores portugueses. Investigar e comparar as adaptações para cinema e televisão de língua portuguesa, sejam elas produções nacionais ou transnacionais, será o maior objetivo deste grupo de trabalho. Além disso, visamos incentivar o estudo de filmes adaptados de língua portuguesa; oferecer um espaço para o debate das diferentes metodologias de adaptação; procurar entender as razões pelas escolhas de autores canônicos, contemporâneos ou populares nos diferentes contextos culturais; comparar as adaptações de autores canônicos portugueses em cinema e televisão, bem como nas diferentes produções nacionais e transnacionais; analisar e comparar as adaptações de autores portugueses no contexto brasileiro, português e transnacional; estudar as razões pelo interesse na literatura no contexto africano, etc.

Justificativa:
Justificativa: A grande maioria de filmes de ficção são baseados em literatura, tanto canônica quanto popular. Os filmes produzidos em língua portuguesa não são exceção. É de notar que o Brasil, além de seus autores consagrados como Machado de Assis e Guimarães Rosa, sempre deu destaque a Eça de Queirós. As produções luso-brasileiras que sofreram um aumento significativo desde a assinatura de um Protocolo de Co-produção em 1994, diversificaram o interesse em autores portugueses, bem como de autores brasileiros contemporâneos. O cinema luso-africano que representa em alguns países 100% da produção (Cabo Verde), consiste principalmente em adaptações literárias de romances nacionais, muitas vezes filtrados pelo olhar de realizadores lusitanos. Ao longo de sua história cinematográfica, Portugal teve iniciativas, não sempre bem sucedidas, de levar seus grandes romances para a tela, e alguns dos seus maiores cineastas (Manoel de Oliveira, João César Monteiro, Fernando Lopes etc.) baseiam-se sobretudo em textos literários ou contos. Ainda existem poucos estudos que se debruçam sobre este panorama e não houve tentativa de criar um espaço para estudar as adaptação literárias de língua portuguesa de forma comparativa. Pretendemos oferecer este tipo de espaço para instigar a análise de realizadores e filmes, mas, sobretudo, análises comparativas, entre os diferentes filmes, realizadores, países e em relação aos filmes transnacionais (que englobam duas adaptações literárias luso-afro-brasileiras).



GRUPO DE TRABALHO - GT 68
POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E POLÍTICAS DE IDENTIDADE

Coordenadores:
Terezinha de Jesus Machado Maher
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Função na instituição: Professor
América Lucia Silva Cesar
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal da Bahia
Função na instituição: Professor
Lynn Mario T. menezes de Souza
Titulação mais alta: Livre Docência
Filiação institucional: Universidade de São Paulo
Função na instituição: Professor Titular

Resumo:
Pretendendo reunir pesquisadores interessados em discutir o impacto de políticas linguísticas no mundo luso-afro-brasileiro, este grupo de trabalho objetiva acolher acadêmicos interessados em refletir sobre o modo como tais políticas afetam as identidades de falantes de grupos socialmente e/ou etnicamente subalternos. Parte-se da premissa de que, em contextos de correlação de forças sociais e culturais, as políticas lingüísticas, implícitas ou explícitas, quase nunca têm como objetivo principal uma intervenção, pura e simples, em um dado quadro lingüístico: o que está, de fato, em jogo é principalmente a legitimação de identidades hegemônicas e a desvalorização, quando não a negação, de identidades desprestigiadas pela sociedade. Os discursos e os esforços deliberados a favor do uso, da modificação ou do abandono de uma língua e/ou de uma variedade linguística são, portanto, quase sempre instrumentos, não metas. Pesquisadores cujos trabalhos focalizam esse caráter manipulatório das políticas lingüísticas no cenário luso-afro-brasileiro, bem como aqueles que descrevem tentativas localizadas de oposição a esse tipo de manipulação serão bem-vindos. Dentre os temas considerados relevantes no que tange a apresentação de trabalhos, destacamos:
• A construção de identidades em contextos plurilíngües e multiculturais (em contexto indígena, de imigração, de fronteira, de surdez etc)
  • Lingua(gens) e identidades na diáspora
    Políticas linguísticas oficiais versus políticas linguísticas locais
  • Mesclas lingüísticas e identidades híbridas
  • "Perda" e "revitalização" linguística
  • A expansão da língua portuguesa em um mundo globalizado
  • Identidades e políticas de ensino de línguas (maternas e estrangeiras)
  • Políticas linguísticas e de identidade em ambientes virtuais
• Metalinguagens locais: crítica, inovação e legitimação.


Justificativa:
Várias são as comunidades de fala em diferentes países africanos (Moçambique, Angola, Namíbia, dentre outros) que se sentem, hoje, ameaçadas pela supremacia de línguas hegemônicas coloniais, situações que colocam em risco a própria existência de um sem número de idiomas autóctones no continente. Também no Brasil, grande parte das línguas indígenas existentes no país encontra-se em estado de extrema vulnerabilidade: estima-se que, caso políticas lingüísticas eficazes de proteção não sejam colocadas rapidamente em andamento, muitas delas podem desaparecer nas próximas décadas, provocando um empobrecimento significativo no Atlas Linguístico Brasileiro. Evocar Timor Leste, por outro lado, significa trazer à tona, não apenas uma disputa entre a língua portuguesa e a língua indonésia, mas também entre o tétum e outras línguas timorenses (ataurense, baiqueno, becais etc...). Tensões em contextos de imigração decorrentes de "embates" entre línguas de herança e línguas nacionais são, além disso, freqüentes, tanto no Brasil, quanto em Portugal e na África do Sul. Paralelamente, falantes de mesclas, de hibrismos lingüísticos, como, por exemplo, o creole cabo-verdiano e o portunhol nas fronteiras brasileiras, sofrem os efeitos de políticas lingüísticas e educativas que consideram seus falares ilegítimos. E também não é possível esquecer que diferentes comunidades de surdos, tanto em Portugal, quanto no Brasil vêm, insistentemente, reivindicando o status de língua plena e de direito também para, respectivamente, a LGP (Língua Gestual Portuguesa) e LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Todos os entraves interlínguas apontados são apenas algumas evidências de quão conflitivo é o cenário que atualmente caracteriza o mundo luso-afro-brasileiro do ponto de vista sociolingüístico. Entretanto, é preciso ainda considerar um outro elemento complicador de peso nesse mesmo cenário: também de uma perspectiva intralingüística, também no interior das fronteiras de cada uma das línguas nele existente, há conflito, na medida em que seus falantes têm que lidar com o fato de que nenhuma língua constitui um todo uniforme: muito pelo contrário, cada uma delas, dada a sua própria natureza essencialmente mutável, é composta por diferentes variedades, às quais, importa frisar, são atribuídas valores sociais desiguais.
A multiplicidade de línguas e variedades sociolingüísticas no mundo luso-afro-brasileiro vem fazendo com que as políticas lingüísticas, nacionais e locais, ganhem destaque, tanto no mundo acadêmico, quanto na consciência das comunidades de fala. O Grupo de Trabalho aqui proposto pretende abrir espaço para trabalhos que focalizem discursos e práticas referentes a políticas lingüísticas voltadas para grupos linguística, cultural e/ou socialmente subordinados nesse universo, levando em consideração a premissa de que há uma relação visceral entre políticas lingüísticas e políticas de identidade: toda tentativa de se estabelecer políticas que promovam, regulam ou restrinjam usos linguísticos nunca visa intervir, simplesmente, em uma dada situação lingüística, e, sim, reafirmar ou deslegitimar as identidades dos grupos socioculturais para os quais essas políticas se voltam. Em existindo uma relação de tensão entre línguas e variedades sociolinguísticas em contextos multilingües, as ações e os discursos aí encontrados refletirão, forçosamente, o conflito sociolingüístico, já que este transforma atitudes, comportamentos, atividades e instituições sociais. Este conflito se traduz no dilema entre, por um lado, dominar a língua ou variedade associada a poder, a prestígio e a vantagens sociais e econômicas e, por outro, assegurar a alteridade lingüística, fazendo o uso de línguas e variedades vernaculares. As decisões sobre políticas e planificações lingüísticas em uma situação de conflito lingüístico se inserem necessariamente, portanto, em relações de poder e de forças simbólicas e só através delas podem ser interpretadas.



GRUPO DE TRABALHO - GT 69
PRÁTICAS CULTURAIS LÚDICAS E IDENTIDADE ÉTNICO-RACIAL EM NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS

Coordenadores:
Maria de Fátima Vasconcelos da Costa
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal do Ceará - PG em Educação Brasileira
Função na instituição: Professora Associada I
Maria da Glória Feitosa Freitas
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal do Maranhão
Função na instituição: Professor
Maria Celeste Magalhães Cordeiro
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Estadual do Ceará
Função na instituição: Professora

Resumo:
O objetivo do GT de PRÁTICAS CULTURAIS LÚDICAS E IDENTIDADE ÉTNICO-RACIAL EM NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS é oportunizar a troca de experiências entre pesquisadores interessados na temática das práticas culturais lúdicas e afro-brasileiras em abordagem autobiográficas. Tendo em conta que as práticas lúdicas têm um lugar próprio no campo da cultura, indicadoras de diferentes níveis de mediações societárias, o conhecimento dessas práticas nas diversas temporalidades pode fornecer um quadro das mudanças sócio-históricas que definem e justificam tais práticas. Nesse sentido, pretendemos explorar a produtividade do processo narrativo para uma compreensão ampliada dos modos de sociabilidade envolvidos nas práticas lúdicas e nas manifestações culturais afro-brasileiras que permitem melhor compreender a nossa formação social. Estas últimas encerram um rico patrimônio cultural, que, devido ao processo de silenciamento histórico, nem sempre é assim representado no imaginário social brasileiro. É a partir da diferenciação que constituímos nossa identidade. Para os estudos culturais, identidade e diferença são termos correlativos, produzidos a partir de posicionamentos discursivos definidores das fronteiras de pertencimento/exclusão (HALL, 2009, BAUMAN, 2005). Assim, a construção das identidades étnico-raciais passam obrigatoriamente pela relação com a alteridade. A abordagem teórico-metodológica apóia-se na pesquisa autobiográfica (JOSSO, 2008), e nos estudos culturais, posto que problematizamos a construção de diferenciações identitárias enquanto um campo de forças sociais, que atuam como mecanismos produtores de subjetividades, no qual a discursividade ocupa um papel chave. Assim, o relato de sujeitos acerca das memórias de vivências situadas em diferentes temporalidades é a um trabalho de reconhecimento desses sujeitos como protagonistas desses acontecimentos.

Justificativa:
Considerando que as práticas lúdicas compreendem um vasto campo da cultura, que contempla desde as brincadeiras infantis até os folguedos populares, cujas permanências e mudanças são tributárias de diferentes condições de possibilidades, temos na pesquisa dessas práticas a oportunidade de pensar o conjunto das forças sociais que as organiza. Do mesmo modo, considerando o contexto histórico em que se constituíram as relações étnico-raciais luso-afro-brasileiras, permeado de tensões e injunções de silenciamento, de que as manifestações culturais da cultura negra dão testemunho, o trabalho de pesquisa nessa área oferece um quadro de inteligibilidade que a um só tempo visibiliza seus atores e resgata sua força política. Quanto ao enfoque autobiográfico, " (...) quer se trate da criança, do adolescente ou do adulto, o ator biográfico trabalha para integrar os episódios de sua existência individual e social no movimento geral de sua biografização, ou seja, da forma cosntruída de sua experiência que ele não cessa de refazer.(...) na medida em que ela (pesquisa auto-biográfica) tem como propósito evidenciar as modalidades de construção da experiência e os princípios da gênese sócio-individual, encontra nesse processo de educação de si e de aprendizagem biográfica o coração de sua abordagem e o próprio objeto de suas análises (MOMBERGER, 2008).
Entendemos que diferentes "meios sociais e profissionais contrapõem diferentes medidas de superfície, de quantidade e de tempo na vivência festiva. Na teia de festas que se insinuam, festas se cristalizam, festas que desaparecem ou mudam, operam diferentes vontades sociais, concepções de tempo, condições sociais." (Almeida, 2001, p.661). Bosi destaca o alcance do exercício narrativo ao afirmar que: "um mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que não conhecemos pode chegar-nos pela memória dos velhos. Momentos desse mundo perdido podem ser compreendidos por quem não os viveu e até humanizar o presente. A conversa evocativa de um velho é sempre uma experiência profunda: repassada de nostalgia, revolta, resignação pelo desfiguramento das paisagens caras, pela desaparição de entes amados, é semelhante a uma obra de arte. Para quem sabe ouvi-la, é desalienadora, pois contrasta a riqueza e a potencialidade do homem criador de cultura com a mísera figura do consumidor atual." (1994, p. 83). O território do relato, escrito ou oral, implica na possibilidade de auto-estranhamento e, por isso, se constitui num importante momento formativo de ressignificação identitária que abre portas para novas configurações conceituais.
A consideração da linguagem nesse campo de pesquisa apóia-se no pressuposto teórico-metodológico da filosofia do ato de Bakhtin. Para a abordagem polifônica: [...] visa introduzir um campo de análise da produção de conhecimentos em ciências humanas segundo o modo como a relação com o outro é abordada [...] integrar o paradoxo fundamental da pesquisa e da produção de conhecimentos: instaura-se uma diferença irredutível dos lugares enunciativos para poder, não exatamente "entrar em diálogo", mas fazer aparecer a complexidade do fenômeno dialógico, onde o pesquisador deixa que se altere sua palavra por uma presença inexoravelmente outra. Trata-se do deslocamento do objeto e do sujeito da pesquisa. Ultrapassa-se a posição de suposta transparência do objeto e da palavra do outro, na medida em que lhe é atribuída a condição de enunciação. Seu sentido é algo a construir na medida em que é um dizer e um gesto. E é muitas vezes ao próprio pesquisador que esse gesto se dirige (AMORIM, 1998, p. 63).
As narrativas autobiográficas, capazes de explicitar as maneiras de vivenciar e conceber "a própria história de formação e suas múltiplas relações com as pessoas e os espaços que as conformaram, podem constituir um recurso inestimável às reflexões acerca da natureza dos processos formadores e das intervenções que neles se fazem." (CATANI; BUENO; SOUSA, 2000, p.169).



GRUPO DE TRABALHO - GT 70
Vertentes do insólito ficcional em literaturas de língua portuguesa

Coordenadores:
Flavio Gacía
Titulação mais alta: Pós Doutor(a)
Filiação institucional: UERJ/ UNISUAM
Função na instituição: Professor Adjunto
Jurema Oliveira
Titulação mais alta: Pós Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal do Espírito Santo
Função na instituição: Professor

Resumo:
O insólito, como categoria de gênero literário, aspecto de modalização discursiva ou tema ficcional, "carrega consigo e desperta no leitor [...] o sentimento do inverossímil, incomodo, infame, incongruente, impossível, infinito, incorrigível, incrível, inaudito, inusitado, informal..." (COVIZZI, L. M. O insólito em Guimarães Rosa e Borges. São Paulo: Ática, 1978. p. 26.). Logo, marcada pela negativa, a literatura do insólito permite o questionamento de valores, o acesso a possibilidades de representação da realidade não convencionais ou "censuradas", a tomada de atitudes contra-hegemônicas. Foi assim no Fantástico, notadamente desde o final do Século XVIII até o início do XX; no Realismo Mágico ou Maravilhoso, inaugurado ainda na primeira metade do XX e ressiginificado na Contemporaneidade; e mesmo em várias facetas da literatura dos últimos cem anos, em grande parte, de efêmera duração ou restrita ocorrência, como pode ser o caso, salvo engano de leitura, do Absurdo.
Dilatando-se, consciente, assumida e propositalmente, o conceito de Contemporaneidade para um recorte cronológico que abarque, a grosso modo, os últimos cinquenta ou sessenta anos, pode-se falar, sem prejuízo crítico-teórico, da ocorrência do insólito ficcional contemporâneo desde o final da primeira metade do século passado.
Essa perspectiva permite, no caso da literatura brasileira, por exemplo, incluir, como aqui se pretende, na esteira evolutiva da literatura do insólito, Murilo Rubião, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e José J. Veiga, ainda que, inevitavelmente, reconheça-se a singularidade de sua manifestação na obra de cada um desses autores. Pode-se, ainda, admitir, no mesmo escopo e com o mesmo cuidado, Amilcar Bettega, Moacyr Scliar Barbosa e André Vianco. Na literatura portuguesa, caberiam, nesse universo, Maria Judite de Carvalho, José Saramago e Mário de Carvalho, entre tantos outros. Nas literaturas africanas de língua portuguesa, restringindo-se apenas e tão somente à literatura moçambicana, por economia e exemplaridade, merecem figurar, nesse mesmo grupo, Ungulani Ba Ka Khosa, Paulina Chiziane e Mia Couto.
Autores de resistência, reação, constestação, negação, constituem o conjunto heterogêneo da literatura do insólito ficcional contemporâneo que se quer estudar.

Justificativa:
O objetivo geral do GT é a discussão da ocorrência do insólito, como categoria de gênero literário, aspecto de modalização discursiva ou tema ficcional, em literaturas de língua portuguesa, privilegiando as literaturas brasileira, portuguesa, moçambicana e angolana, sem, contudo, fixar a exclusividade dos estudos a essas expressões literárias, havendo espaço para as outras literaturas africanas de língua portuguesa, bem como para a literatura timorense e as literaturas dos enclaves de Goa e Macau.
Pretende-se, prioritariamente, estudar a manifestação do insólito ficcional em literaturas de língua portuguesa a partir do final da primeira metade do Século XX, considerando um recorte cronológico de aproximadamente sessenta anos - 1950 / 2010 -, que se está convencionando chamar de Contemporaneidade. Esse recorte abarca ampla e vasta diversidade de gêneros ou subgêneros literários, de escolas ou movimentos artísticos, de estilos de época, conforme as histórias ou os manuais de literatura têm comumente nomeado.
Os estudos deste GT devem abordar a produção ficcional a partir de seu caráter de negação, expresso invariavelmente pelo prefixo in-, anteposto, como é regra, ao conceito afirmativo que se pretende negar. Logo, trata-se de estudar as manifestações literárias de oposição, atitude contra-hegemônica, reação a sistemas vigentes, violação de censuras, afirmação de diferenças, emersão de minorias etc. Esses estudos, por sua perspectiva motivadora, tenderão, ainda, aqui, inevitavelmente, a ter por seu objeto obras ou autores não canônicos, considerados marginais. Aliás, marginais também foram e continuam sendo os gêneros literários a que essas obras ou esses autores se viram vinculados, como o Fantástico, o Realismo Mágico ou Maravilhoso, o Absurdo e, mais recentemente, em África, o Realismo Animista.
Este GT favorecerá a apresentação de trabalhos que problematizem gêneros literários mantidos à margem nas histórias e manuais de literatura em geral, obras e autores esquecidos ou poucos estudados, literaturas emergentes. Permitirá a revisão de conceitos crítico-teóricos acerca de gêneros literários da tradição e sua consequente atualização ao cenário contemporâneo. Abrirá veio para novas pesquisas em torno da produção ficcional - tanto na literatura como no cinema, por exemplo - que se nutre da manifestação do insólito, às vezes como categoria de gênero, construído a partir de estratégias narrativas apropriadas, outras como modalização do discurso, a partir do emprego de variados recursos de linguagem que circunscrevem o modo insólito de ver e representar a realidade, ou, ainda, tantas outras vezes, como tema sobre o qual se produz a diegese.
Resumidamente, as literaturas de língua portuguesa, pelas características próprias dos países em que se produzem, são férteis para o estudo do insólito ficcional. Portugal, desde o final da dinastia de Avis, precisou se afirmar frente às outras nações européias, fosse diante da hegemonia hispânica na Península Ibérica, do poderio bélico da França napoleônica, do imperialismo britânico, e sua literatura, em vários momentos, espelhou essa necessidade. O Brasil, ex-colônia portuguesa, levantou-se contra os padrões da metrópole lusitana, assumindo a dianteira na divulgação da língua e da literatura em língua portuguesa, e, similarmente a Portugal, teve que firmar fronteiras frente à hegemonia hispânica nos demais países das Américas do Sul e Central. Angola ou Moçambique, também ex-colônias portuguesas, enfrentaram árduas e sangrentas guerras de descolonização, em momento histórico paritário, seguido-se, em ambos os países, de guerras civis entre as tribos locais, o que, fatalmente, se manifesta na ficção de seus principais autores. Não terá sido muito distinto o cenário de Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, n África, ou Timor Leste, na Ásia. Incógnitas, talvez ainda mais instigantes, sejam as literaturas em língua portuguesa de Goa e Macau, pouco ou nada conhecidas.



GRUPO DE TRABALHO - GT 71
Trânsitos, integração e memória em discursos culturais africanos, portugueses e brasileiros

Coordenadores:
Antônio Marcos Pereira
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal da Bahia
Função na instituição: Professor
Inocência Mata
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade de Lisboa
Função na instituição: Professora
Jesiel Ferreira de Oliveira Filho
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal de Sergipe
Função na instituição: Professor
José Henrique de Freitas Santos
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal da Bahia
Função na instituição: Professor
Maria de Fátima Maia Ribeiro
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Federal da Bahia
Função na instituição: Professora

Resumo:
A discussão acerca dos ideários universalistas e confraternizantes, que caracterizam determinados discursos nos países de língua portuguesa, adquire na contemporaneidade função estratégica, que, entre outros fatores, incide diretamente nos processos de invenção das nações e das identidades culturais. Pensar a diversidade junto a possibilidades de integração numa comunidade, como a CPLP, traz consigo a reflexão acerca das relações de poder e dos jogos de memória e esquecimento que atravessam a tessitura da história, colocando-nos diante do desafio de abarcar a complexidade dos fluxos que entretecem as nações de língua portuguesa. Neste espaço dilatado, contraditório, diferente e desigual, o discurso crítico das artes, literaturas e mídias, que nos propomos a enfocar, debruça-se sobre os trânsitos e trocas (físicos e simbólicos) que redesenham a geopolítica, as subjetividades e os saberes.
Justificativa:
Este GT propõe-se a discutir as imagens e representações dos mais diversos trânsitos em/entre países de língua oficial portuguesa, presentes em textos literários, filmes e outros produtos culturais oriundos de África, Portugal e Brasil, situando-os a partir de uma perspectiva rizomática sobre as relações de poder em causa. Buscando colocar em suspenso as noções de origem, de centro e de verdade, interessa-nos lidar simultaneamente com: os deslocamentos diaspóricos como lógica de domínio e o nomadismo de saberes fluidos tecidos no Atlântico Negro que produziram outras diásporas, bem como outros trânsitos; as forças que forjaram geopolíticas e subjetividades derivadas do colonialismo, mas também a "subalternidade pós-colonial" que parece operar nos entrelugares, mobilizando micropoderes; a memória como tessitura da história e a memória como ficção possível na escrita a contrapelo dos monumentos oficiais pela diferença que se apropria dos discursos culturais e passa a operar em territórios distintos; os saberes disciplinares, mas também as relações entre as Ciências Sociais e Humanas, o estético e o cultural; os mecanismos de construção ficcional (artística e midiática), assim como as circunstâncias e as estruturas de recepção associadas aos vários discursos examinados.

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