"Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra."
(Carlos Drummond de Andrade; A procura da poesia; Livro: A rosa do povo. [1945])
A palavra, definida pela linguística como Signo Linguístico, é constituída por dois elementos dependentes:
o significante (forma: sons/letras; imagem acústica)
o significado (conceito, idéia)
"O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito a uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som, a representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos; tal imagem é sensorial e, se chegarmos a chamá-la `material`, é somente neste sentido, e por oposição ao outro termo da associação, o conceito, geralmente mais abstrato." (SAUSSURE, 1999: 80)
A significação das palavras não é radicalmente fixa, às vezes esse significado pode ser ampliado e/ou modificado sob um determinado prisma de conceitos referentes a valores afetivos, sociais, etc.
Por isso, a depender do contexto ao qual esteja inserido, um significante pode apresentar mais de um significado. Para entender melhor essa possibilidade, é necessário entender essencialmente o que é 'contexto':
Por isso, a depender do contexto ao qual esteja inserido, um significante pode apresentar mais de um significado. Para entender melhor essa possibilidade, é necessário entender essencialmente o que é 'contexto':
"Ao ler, o sujeito o faz em determinado local, de determinada forma, sob certas condições. A tudo isso, convencionou-se chamar de contexto. Assim, o contexto é composto pelo ambiente físico, pelos relacionamentos sociais, pela natureza dos eventos e dos enunciados anteriores do discurso e, ao contrário do que se pensava até bem pouco tempo atrás, é essencial à compreensão." (FLÔRES: 2001, p. 81)
"O contexto é caracterizado tanto pela situação quanto pelas condições internas (psicológicas e emocionais) do indivíduo. O contexto representa a visão que o indivíduo tem do mundo, em determinado tempo e lugar, incluindo informações lógicas, como o reconhecimento de regras válidas, ou outras, de caráter conceitual (enciclopédicas) sobre os objetos da situação, além de informações léxicas, que permitem interpretar a linguagem natural e traduzi-la em linguagem lógica." (MACHADO & CUNHA: 2003, p. 167)
Logo, dependendo do contexto em que as palavras de um texto e o leitor (no momento de realização dessa leitura) estiverem inseridos, determinadas palavras ou expressões podem dar margem à múltiplas e diversificadas interpretações. Esses significados diversos são chamados também de conotativos (ou sentido figurado), enquanto o significado usual de uma palavra - aquele comumente apresentado no dicionário - possui o sentido denotativo.
Denotação ou sentido referencial/próprio/literal - consiste no sentido comum/geral da palavra, sentido usual, não-figurado, aquele normalmente encontrado nos dicionários.
"Designa o sentido literal das palavras, como se encontra nos dicionários, "a propriedade que o signo linguístico tem de remeter a um objeto exterior à língua. É, poi, aproximadamente, o equivalente da função referencial da linguagem" (Gary-Prieur 1971: 96). Considerando-se a clássica dualidade saussuriana (langue/parole; língua/fala), a denotação pertence ao círculo da língua, pois "remete ao que, no sentido, é comum a todos os falantes de uma língua" (idem: 98)." (MOISÉS: 2002, p. 116)
"Designa o sentido literal das palavras, como se encontra nos dicionários, "a propriedade que o signo linguístico tem de remeter a um objeto exterior à língua. É, poi, aproximadamente, o equivalente da função referencial da linguagem" (Gary-Prieur 1971: 96). Considerando-se a clássica dualidade saussuriana (langue/parole; língua/fala), a denotação pertence ao círculo da língua, pois "remete ao que, no sentido, é comum a todos os falantes de uma língua" (idem: 98)." (MOISÉS: 2002, p. 116)
Conotação e sentido figurado - Quanto à relação entre conotação e sentido figurado, não há consenso de definição entre vários autores: alguns os distinguem, mesmo que de forma pouco clara, outros ligam ambos os termos ao conceito de "associações semânticas adicionais da palavra, conforme o contexto". Aqui, optamos pela segunda posição ...
"Conotação implica, portanto, em relação à coisa designada, um estado de espírito, uma opinião, um juízo, um sentimento, que variam conforme a experiência, o temperamento, a sensibilidade, a cultura e os hábitos do falante ou ouvinte, do autor ou leitor. Conotação é, assim, uma espécie de emanação semântica, possível graças à faculdade que nos permite relacionar coisas análogas ou semelhadas. Esse é, em essência, o traço característico do processo metafórico, pois metaforização é conotação". (GARCIA: 2004, P. 180)
"Conotação: significação derivada, secundária, efeito de reação subjetiva, afetiva, diante das formas linguísticas. Decorre: a) das associações com experiências vitais; b) da associação com outras formas; c) da ligação com linguagens especiais (gíria, calão, regionalismo, etc.); d) da reação coletiva diante das formas (superstição, tabu, etc.); e) de implicações naturais da própria denotação (v.: madrasta, colono, analfabeto, etc.); f) da estrutura fònica das formas, com efeito auditivo agradável ou desagradável (eufonia, cacofonia).
Sentido figurado: sentido que, além do natural, se atribui a certas palavras, para fins expresivos. Exs.: juventude em flor, na primavera da vida, verdes anos, as estrelas de seu olhar, respeitar as cãs, dois dedos de conversa, etc. São as figuras de palavras (metáfora, metonímia, etc.), que se estudam na Estilística, Retórica e Literatura." (LUFT: 2002, p. 209)
"É a propriedade que possui uma palavra de ampliar-se no seu campo semântico, dentro de um contexto, podendo causar várias interpretações. O autor de uma obra literária dela se vale para criar uma realidade imaginária. Exemplo: As estrelas do cinema. O jardim vestiu-se de flores. O fogo da paixão."
(SACCONI: 1986, p.353).
Conotação/Sentido figurado consiste no sentido não usual da palavra, que surge através de associações provocadas em um determinado contexto, passível de múltiplas interpretações. Trata-se de um recurso muito utilizado na literatura:
"Obviamente, a linguagem da prosa não é pura denotação, pois nesse caso perderia sua feição artística, mas dela se aproxima na medida em que o prosador assume, geralmente, atitudes diretas em face da Natureza e dos homens, à procura de ser tão explícito quanto possível. Assim, por exemplo, quando Machado de Assis enuncia que "Maria Regina acompanhou a avó até quarto o quarto, despediu-se e recolheu-se ao seu, apenas deseja transmitir o que as palavras significam, denotativamente. (...) Por outro lado, a prosa de ficção também recorre à linguagem conotativa, ou às metáforas polivalentes, sempre que se trata de situar "ilhas" poéticas na correnteza do enredo. É consabido que, não existindo pureza em Arte, da mesma forma que a poesia admite metáforas univalentes, a prosa se socorre da conotação quando o fluxo narrativo o permitir ou requerer." (MASSAUD: 1996, p. 85)
"Conotação implica, portanto, em relação à coisa designada, um estado de espírito, uma opinião, um juízo, um sentimento, que variam conforme a experiência, o temperamento, a sensibilidade, a cultura e os hábitos do falante ou ouvinte, do autor ou leitor. Conotação é, assim, uma espécie de emanação semântica, possível graças à faculdade que nos permite relacionar coisas análogas ou semelhadas. Esse é, em essência, o traço característico do processo metafórico, pois metaforização é conotação". (GARCIA: 2004, P. 180)
"Conotação: significação derivada, secundária, efeito de reação subjetiva, afetiva, diante das formas linguísticas. Decorre: a) das associações com experiências vitais; b) da associação com outras formas; c) da ligação com linguagens especiais (gíria, calão, regionalismo, etc.); d) da reação coletiva diante das formas (superstição, tabu, etc.); e) de implicações naturais da própria denotação (v.: madrasta, colono, analfabeto, etc.); f) da estrutura fònica das formas, com efeito auditivo agradável ou desagradável (eufonia, cacofonia).
Sentido figurado: sentido que, além do natural, se atribui a certas palavras, para fins expresivos. Exs.: juventude em flor, na primavera da vida, verdes anos, as estrelas de seu olhar, respeitar as cãs, dois dedos de conversa, etc. São as figuras de palavras (metáfora, metonímia, etc.), que se estudam na Estilística, Retórica e Literatura." (LUFT: 2002, p. 209)
"É a propriedade que possui uma palavra de ampliar-se no seu campo semântico, dentro de um contexto, podendo causar várias interpretações. O autor de uma obra literária dela se vale para criar uma realidade imaginária. Exemplo: As estrelas do cinema. O jardim vestiu-se de flores. O fogo da paixão."
(SACCONI: 1986, p.353).
Conotação/Sentido figurado consiste no sentido não usual da palavra, que surge através de associações provocadas em um determinado contexto, passível de múltiplas interpretações. Trata-se de um recurso muito utilizado na literatura:
"Obviamente, a linguagem da prosa não é pura denotação, pois nesse caso perderia sua feição artística, mas dela se aproxima na medida em que o prosador assume, geralmente, atitudes diretas em face da Natureza e dos homens, à procura de ser tão explícito quanto possível. Assim, por exemplo, quando Machado de Assis enuncia que "Maria Regina acompanhou a avó até quarto o quarto, despediu-se e recolheu-se ao seu, apenas deseja transmitir o que as palavras significam, denotativamente. (...) Por outro lado, a prosa de ficção também recorre à linguagem conotativa, ou às metáforas polivalentes, sempre que se trata de situar "ilhas" poéticas na correnteza do enredo. É consabido que, não existindo pureza em Arte, da mesma forma que a poesia admite metáforas univalentes, a prosa se socorre da conotação quando o fluxo narrativo o permitir ou requerer." (MASSAUD: 1996, p. 85)
"Em face da denotação, significação, referencial da unidade léxica, a conotação faz muitas vezes o papel de libertação: será caracterizado como conotação tudo o que é do domínio da denotação." (DUBOIS: 2004, p. 141)
No entanto, a linguagem conotativa não é exclusiva da literatura, ela também pode ser encontrada em anúncios publicitários, letras de músicas, etc. A linguagem denotativa é normalmente encontrada, de forma predominante, em textos informativos (científicos e jornalísticos).
Uma importante observação: os textos não costumam utilizar-se de uma linguagem totalmente denotativa ou conotativa, normalmente há predominância de uma delas, mas não a existência de só uma em um texto ...
Denotação
- Significação restrita, usual;
- Palavras/expressões utilizadas de modo objetivo, automatizado;
- Predominante em textos informativos.
Conotação
- Significação ampla, criada pelo contexto;
- Palavras/expressões utilizadas de modo subjetivo, criativo.
- Predominante em textos literários.
Observação:
Cláudio Moreno, no site "Sua língua", se manifesta a respeito da distinção entre conotação e sentido figurado:"usando a definição de John Lyons, um importante lingüista inglês, o que chamamos de “significado” de um vocábulo é divisível em duas parcelas: a denotação (a parcela do Universo que o vocábulo designa) e a conotação (todo o resto do significado do vocábulo, depois que tirarmos a denotação). Apesar de parecer obscuro, isso quer dizer que a conotação engloba todas as demais informações adicionais veiculadas pela palavra: a região a que pertence o falante; sua idade; sua atitude com relação ao objeto que está sendo nomeado — se é a favor, se é contra; o nível do discurso que se está adotando (se formal ou informal), e assim por diante. Como expliquei no artigo que mencionas (e que não te convenceu …), lábio e beiço, denotativamente, são sinônimos, mas o segundo termo carrega, além disso, uma forte conotação pejorativa (o mesmo vale para calvo e careca, bêbado e embriagado, inverdade e mentira). Onde eu digo comercial de TV, minha avó dizia reclame — o que tem hoje uma conotação ultrapassada, saudosista. Onde o Brasil inteiro fala em cavalo para montar, ouve-se muito, aqui no R. G. do Sul, pingo, de forte conotação regionalista. E assim por diante. O significado conotativo, portanto, é esse significado de contrabando que o vocábulo carrega.
(...)
Metáforas e metonímias, sinédoques, hipérboles, etc., pertencem ao que se chama de “linguagem figurada”, e nada têm a ver com isso. Infelizmente, os conceitos de semântica que entraram em nossas gramáticas escolares são antiquados e confundem uma coisa com a outra. Espero ter esclarecido tuas dúvidas. Abraço. Prof. Moreno"
O professor afirma que o sentido figurado remete à linguagem metaforizada, enquanto a conotação, mesmo que englobe cargas semânticas adicionais de uma determinada palavra, não estaria ligada ao processo figurado semanticamente. Como já dito acima, preferiu-se, neste trabalho seguir a "corrente" de autores que entendem o processo figurativo e conotativo como um só, portanto, lábio e beiço teriam a mesma denotação e este segundo possuiria, além dessa significação comum, um significado pejorativo em certos contextos, logo dotado de uma propriedade conotativa (possuindo um sentido figurado). Assim como o vocábulo cão em frases como: "Aquela pessoa é o cão.", ou mesmo a palavra estrelas: "As estrelas de Hollywood ...".
Observação:
Cláudio Moreno, no site "Sua língua", se manifesta a respeito da distinção entre conotação e sentido figurado:"usando a definição de John Lyons, um importante lingüista inglês, o que chamamos de “significado” de um vocábulo é divisível em duas parcelas: a denotação (a parcela do Universo que o vocábulo designa) e a conotação (todo o resto do significado do vocábulo, depois que tirarmos a denotação). Apesar de parecer obscuro, isso quer dizer que a conotação engloba todas as demais informações adicionais veiculadas pela palavra: a região a que pertence o falante; sua idade; sua atitude com relação ao objeto que está sendo nomeado — se é a favor, se é contra; o nível do discurso que se está adotando (se formal ou informal), e assim por diante. Como expliquei no artigo que mencionas (e que não te convenceu …), lábio e beiço, denotativamente, são sinônimos, mas o segundo termo carrega, além disso, uma forte conotação pejorativa (o mesmo vale para calvo e careca, bêbado e embriagado, inverdade e mentira). Onde eu digo comercial de TV, minha avó dizia reclame — o que tem hoje uma conotação ultrapassada, saudosista. Onde o Brasil inteiro fala em cavalo para montar, ouve-se muito, aqui no R. G. do Sul, pingo, de forte conotação regionalista. E assim por diante. O significado conotativo, portanto, é esse significado de contrabando que o vocábulo carrega.
(...)
Metáforas e metonímias, sinédoques, hipérboles, etc., pertencem ao que se chama de “linguagem figurada”, e nada têm a ver com isso. Infelizmente, os conceitos de semântica que entraram em nossas gramáticas escolares são antiquados e confundem uma coisa com a outra. Espero ter esclarecido tuas dúvidas. Abraço. Prof. Moreno"
O professor afirma que o sentido figurado remete à linguagem metaforizada, enquanto a conotação, mesmo que englobe cargas semânticas adicionais de uma determinada palavra, não estaria ligada ao processo figurado semanticamente. Como já dito acima, preferiu-se, neste trabalho seguir a "corrente" de autores que entendem o processo figurativo e conotativo como um só, portanto, lábio e beiço teriam a mesma denotação e este segundo possuiria, além dessa significação comum, um significado pejorativo em certos contextos, logo dotado de uma propriedade conotativa (possuindo um sentido figurado). Assim como o vocábulo cão em frases como: "Aquela pessoa é o cão.", ou mesmo a palavra estrelas: "As estrelas de Hollywood ...".
Referência Bibliográficas e de pesquisa:
DUBOIS, Jean et ali. (Org.) Dicionário de linguística. 9. ed. São Paulo: Cultrix: 2004.
DUBOIS, Jean et ali. (Org.) Dicionário de linguística. 9. ed. São Paulo: Cultrix: 2004.
FLÔRES, Onici Claro (org). Ensino de língua e literatura: alternativas metodológicas. Canoas: ULBRA, 2001.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna: aprenda escrever, aprendendo a pensar. 24. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2004.
LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática brasileira. Globo Livros: 2002.
MACHADO, Nílson José & CUNHA, Marisa O. (org.) Linguagem, conhecimento, ação: ensaios de epistemologia e didática. - São Paulo: Escrituras Editora, 2003. - (Coleção ensaios transversais; 23).
MOISES, Massaud. A análise literária. Cultrix: São Paulo, 1996.
MOISES, Massaud. Dicionário de termos literários. Cultrix: São Paulo, 2002.
SAUSSURRE, F. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix, 1999.
http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2009/05/07/denotacao-e-conotacao/(Acesso em 16/01/2010)
http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2009/05/07/conotacao-e-linguagem-figurada/
(Acesso em 16/01/2010)
http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=2727
(Acesso em 16/01/2010)
http://br.oocities.com/jfpaz71/texto119.htm
(Acesso em 16/01/2010)
http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2009/05/07/denotacao-e-conotacao/(Acesso em 16/01/2010)
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(Acesso em 16/01/2010)
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(Acesso em 16/01/2010)
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