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(Textos - Eleições 2010): Deu Tiririca na democracia?

Texto para discussão:   Deu Tiririca na democracia?
(01/09/2010)

Aquele que se preocupa em censurar Tiririca ou deslegitimá-lo por conta do tipo de sua campanha é bem pior que o eleitor do Tiririca. Se os candidatos que se dizem os guardiões das “propostas sérias” não conseguem competir com Tiririca, então, eles que paguem o preço de serem desinteressantes e, no limite, burros.
Atriz pornô, palhaço, candidatos excêntricos em geral não podem ser calados por serem o que são. Quem tem algo contra o tipo de campanha dos excêntricos, que use do espaço eleitoral para criticá-los. Agora, querer dizer que a democracia fica maculada por gente como eles, já é demais. Pior ainda é se, junto com o malfadado “ficha limpa”, apareça também uma legislação dizendo que para ser candidato é necessário vir à TV de terno e gravata e dizer a frase “vou dar saúde e educação”. Isso sim macula a democracia.
Tiririca tem uma mensagem clara. Os candidatos que dizem “vou dar saúde e educação” ou “sou candidato ficha limpa” não possuem plataforma nenhuma. Não possuem nenhum programa de ação. Nada. Falam o que todos falam. Falam o que é a modinha. Repetem o que está no texto que lhes foi dado pelo próprio sujeito que os filmou, em uma rodada única, fazendo serviço para o partido.
Agora, Tiririca é diferente. Ele está dizendo de modo definitivo: “se a competição é para chamar a atenção, eu consigo chamar a atenção”. Será eleito? Não importa! Enéas foi eleito por fazer graça. Era uma graça trágica, pois em uma segunda vez seu espaço aumentou e, então, ele fez uma campanha de coloração fascista. Enéas foi acusado de corrupção e, ao final da vida, estava no Programa Pânico na TV, tentando entender as brincadeiras postas ali e buscando amenizar sua imagem de “durão da direita” ou “seguidor de Hitler” e até mesmo de “doutor Silvana”. O Congresso é uma escola. Ali, Há mais gente experiente e que faz política útil do que muitos imaginam. Os que entram lá como Clodoviu, logo percebem que aquela Casa não é o palco do Chacrinha e que, mais cedo ou mais tarde, a palhaçada cansa principalmente o que votaram nele.
Para ficar no Congresso é preciso representar um grupo social. Quem fica mais de um mandato, certamente representa. Quem não representa, acaba caindo fora. Caso Tiririca entre e só represente ele mesmo, não faça seus projetos procurando identificar seu eleitor, na eleição seguinte será substituído por outro palhaço. O espaço do excêntrico está reservado. Mas o excêntrico que aposta que sem fazer nada ele continuará se elegendo, tem logo a ingrata surpresa. A cada eleição, a parcela minoritária, que vota no excêntrico, escolhe outro excêntrico.
É necessário sermos verdadeiramente democráticos para entendermos a democracia de modo a deixá-la funcionar. E isso sem esse excesso de zelo que uma parte da classe média gosta de mostrar que possui. Aliás, essa classe média é exatamente aquela que vota naqueles que também são excêntricos – os excentricamente conservadores, os excentricamente tecnocratas, os excentricamente pobres-eternos, mesmo quando isso seja uma grande mentira.
                                                                     (
Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ)
(Acesso em 05 de Setembro/2010.)

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