THAÍS NICOLETI DE CAMARGO - (20/05/2011)
É conhecida a dica de etiqueta segundo a qual se deve evitar discutir política e religião em jantares sociais. O motivo é que as convicções pessoais de cada um dividem o grupo em vez de uni-lo, nada mais inadequado quando o objetivo é confraternizar.
É conhecida a dica de etiqueta segundo a qual se deve evitar discutir política e religião em jantares sociais. O motivo é que as convicções pessoais de cada um dividem o grupo em vez de uni-lo, nada mais inadequado quando o objetivo é confraternizar.
Pelo rumo que está tomando na mídia o debate sobre o ensino da língua materna, esse será o próximo tema tabu a ser barrado nas reuniões entre amigos.
A inacreditável partidarização do debate vem provocando cizânia desnecessariamente, já que, ao fim e ao cabo, todos têm o mesmo objetivo: ensinar a língua portuguesa. O que parece difícil de entender, porém, é o próprio conceito de língua.
Aferrados à ideia de que a língua é a norma culta, os detratores da linguística parecem prestes a queimar em praça pública o livro de Heloísa Ramos, cujos trechos divulgados na imprensa ensejaram a acalorada discussão. Nada mais disparatado, até porque o livro não elegeu como modelo a ser ensinado em aula as realizações próprias de uma variante oral popular. O "pecado mortal" do livro é mostrar que determinadas construções linguísticas existem e são empregadas com notável regularidade por muitas pessoas. Não seria esse um bom modo de entrar numa discussão mais madura e realista (para não dizer científica) sobre a língua?
É muito provável que os leitores deste texto jamais tenham dito algo como "os livro" ou "nós pega o peixe", mas é igualmente provável que ignorem a pronúncia da letra "r" final dos infinitivos, lendo "eu vou comprá", "não vou saí hoje" ou "ele não qué perdê tempo", embora escrevam corretamente as formas "comprar", "sair", "quer" e "perder".Também não é improvável que essas mesmas pessoas, escolarizadas e detentoras da variante culta da língua, iniciem frases com o pronome átono ("Me disseram que você estaria aqui"), usem o pronome "te" quando o tratamento é "você" ("Você não me viu, mas eu te vi"), empreguem os pronomes pessoais do caso reto de terceira pessoa (ele, ela, eles, elas) em função de objeto direto ("Encontrei ela na festa", "O pai trouxe eles aqui ontem") ou que usem o verbo "ter" com o sentido de "haver" ("Tinha muita gente na festa"). São "desobediências" ao padrão culto praticadas pelos próprios detentores da norma culta, mas nenhuma dessas realizações provoca a mesma indignação que o "nós pega os livro". Por que será?
Para ler a matéria na íntegra, acesse o site da 'Folha':
http://www1.folha.uol.com.br/saber/918662-norma-culta-e-ensino-da-lingua-cizania-desnecessaria.shtml
Para ler a matéria na íntegra, acesse o site da 'Folha':
http://www1.folha.uol.com.br/saber/918662-norma-culta-e-ensino-da-lingua-cizania-desnecessaria.shtml
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